SARAU MARCAS POÉTICAS - IX
A arte literária é consequência da própria vida, viver é a arte do inexplicável, das dúvidas e da esperança.
Aparecido Donizetti Hernandez
[...] O poeta
transfigura a linguagem para fazê-la dizer algo, mas esse algo não existe antes,
aquém, depois, além do poema, pois é o próprio poema.
Um livro, diz
Merleau-Ponty, é “uma máquina infernal de produzir significações”. Começamos a
lê-lo preguiçosamente, meio distraídos. De repente, algumas palavras nos
despertam, como que nos queimam, o livro
já não nos deixa indiferentes, passamos realmente a lê-lo. Que se passa? A
passagem da linguagem falada – aquela que possuíamos em comum com o
escritor – à linguagem falante – uma certa operação com os signos e a
significação, uma certa torção nas palavras, um ligeiro descentramento do
sentido instituído e a explosão de um sentido novo que “nos pega”.
A literatura,
como a pintura, a música, a escultura e qualquer das artes, é a passagem do instituído
ao instituinte, transfiguração do existente numa outra realidade,
que o faz renascer sob a forma de uma obra. [...]
CHAUÍ, Marelena. Convite
à filosofia, São Paulo, Ática, 2000.
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